sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O ESCÂNDALO DA SIMPLICIDADE






Em determinada altura de seu ministério Jesus retornou à cidade onde fora criado, Nazaré. Chegando o shabbat (sábado), dirigiu-se à sinagoga. Naquela ocasião foi-lhe dada a oportunidade de falar, e passou a ensinar. Ao ouvir as suas palavras a multidão se maravilhava.

Considerando o contexto literário proposto por Marcos para este episódio, as pessoas presentes deveriam ter em mente o que Jesus operara em outros lugares (curas, expulsões de demônios, etc).

Enquanto Jesus falava, inúmeros questionamentos foram surgindo. "De onde lhe vêm estas coisas? e que sabedoria é esta que lhe foi dada? e como se fazem tais maravilhas por suas mãos?" (Mc 6,2). Marcos e Mateus dizem que estas perguntas foram originadas pelo maravilhar-se das pessoas ante Jesus. Logo iniciaram-se as primeiras considerações a respeito da identidade daquele que, naquele momento, maravilhava a multidão. "Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui conosco suas irmãs?" (Mc 6,3). Aquele que chamava a atenção era um homem simples, e do povo.

Mas, infelizmente, a simplicidade que envolvia a figura de Jesus tornou-se motivo para que o coração dos ouvintes se escandalizasse. Marcos diz: "E escandalizavam-se nele" (Mc 6,3). Na mente dos conterrâneos de Jesus o extraordinário de Deus era incompatível com a figura simples do homem que lhes falava. A simplicidade tornou-se escândalo, e o coração fechou-se na incredulidade.

Somos fascinados pelo fantástico! Tudo o que é extraordinário nos encanta. Porém, na grande maioria das vezes buscamos a fonte do divino em figuras ou ambientes requintados. E constantemente consideramos a simplicidade incompatível com um canal do extraordinário.

Jesus, a Revelação máxima e definitiva de Deus, assumiu a simplicidade de um carpinteiro, O Carpinteiro de Nazaré! Mãos calejadas, talvez algumas marcas de pequenos acidentes de trabalho, enfim: um homem simples!

A verdade é que a simplicidade como fonte do extraordinário nos incomoda. Buscamos os grandes, aqueles que estão em destaque, aos que, segundo nossos critérios, se tornam "a" fonte. E perdemos a capacidade de ver o agir de Deus através da simplicidade.

 Cezar Flora