terça-feira, 29 de abril de 2014

RECEITA PARA LAVAR PALAVRA SUJA - VIVIANE MOSÉ









Eu queria dizer uma coisa que não posso sair dizendo por aí.... É que eu tenho medo que as pessoas desequilibrem de si, que elas caiam delas mesmas quando eu disser.
 Eu descobri que a palavra não sabe o que diz... A palavra delira, a palavra diz qualquer coisa. A verdade é que a palavra nela mesma, em si própria não diz nada. Quem diz é o acordo estabelecido entre quem fala e quem ouve. Quando existe acordo existe comunicação. Quando esse acordo se quebra ninguém diz mais nada, mesmo usando as mesmas palavras...
A palavra é uma roupa que a gente veste. Uns usam palavras curtas, outros usam roupas em excesso...Existem os que jogam palavras fora, pior são os que usam em desalinho, uns usam palavras caras, outros ostentam palavras rara - tem quem nunca troca, tem quem usa dos outros - . A maioria não sabe o que veste. Alguns sabem mas fingem que não, e tem quem nunca usa a roupa certa para a ocasião. Tem os que se ajeitam bem com poucas peças, outros se enrolam em vocabulário de muitas, tem gente que estraga tudo que usa...
 E você? quais palavras você veste?? E aí eu fiz uma receita... Se a palavra é uma roupa ...eu falei: Mas a palavra tá suja demais... a gente usa as mesmas palavras o tempo inteiro... As palavras estão engorduradas... Então eu falei: - receita pra lavar palavras sujas:
Mergulhar a palavra suja em água sanitária.
Depois de dois dias de molho, quarar ao sol do meio dia.
Algumas palavras quando alvejadas ao sol
adquirem consistência de certeza,
por exemplo a palavra vida.

Existem outras e a palavra amor é uma delas,
que são muito encardidas e desgastadas pelo uso.
O que recomenda esfregar e bater insistentemente na pedra,
depois enxaguar em água corrente.
São poucas as que ainda permanecem sujas
depois de submetidas a esses cuidados,
mas existem aquelas.

Dizem que limão e sal tiram as manchas mais difíceis e nada.
Todas as tentativas de lavar a piedade foram sempre em vão.
Mas nunca vi palavra tão suja
como a palavra perda.
Perda e morte na medida em que são alvejadas,
soltam um líquido corrosivo
que atende pelo nome de amargura
capaz de esvaziar o vigor da língua.
Nesse caso o aconselhado é mantê-las sempre de molho
em um amaciante de boa qualidade.

Agora se o que você quer
é somente aliviar as palavras do uso diário,
pode usar simplesmente sabão em pó e máquina de lavar.
O perigo aqui é misturar palavras que mancham
no contato umas com as outras.
A culpa, por exemplo, mancha tudo que encontra
e deve ser sempre clareada sozinha.
Uma mistura pouco aconselhada é amizade e desejo.
Já que desejo sendo uma palavra intensa, quase agressiva,
pode, o que não é inevitável,
esgarçar a força delicada da palavra amizade.

Já a palavra força cai bem em qualquer mistura.
Outro cuidado importante é não lavar demais as palavras
sob o risco de perderem o sentido.
A sujeirinha cotidiana quando não é excessiva
produz uma oleosidade que conserva a cor
e a intensidade dos sons.

Muito valioso na arte de lavar palavras
é saber reconhecer uma palavra limpa.
Para isso conviva com a palavra durante alguns dias.
Deixe que se misture em seus gestos
que passeie pelas expressões dos seus sentidos.
Á noite, permita que se deite,
não a seu lado, mas sobre seu corpo.
Enquanto você dorme
a palavra plantada em sua carne
prolifera em toda sua possibilidade.
Se puder suportar a convivência
até não mais perceber a presença dela,
então você tem uma palavra limpa.

Uma palavra limpa é uma palavra possível.




(Viviane Mosé)
Extraído do livro: Receita para lavar palavra suja, Arteclara, 2004
Viviane Mosé é Psicóloga e Psicanalista, Doutora em Filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

domingo, 20 de abril de 2014

Ele Vive!

Nós do Incomodados desejamos a todos uma Feliz Páscoa
e a constante lembrança de que nosso Redentor vive.
Aleluia!  

https://www.facebook.com/amendoimteologico/posts/316533501831142



quarta-feira, 9 de abril de 2014

ANTES QUE VENHAM OS MAUS DIAS.





Buscai ao Senhor enquanto se pode achar... (Isaias 55)


Um dia desses estava me preparando para o culto dos jovens quando vejo chegando um dos irmãos da igreja acompanhado de seu filho. Cena incomum, afinal de contas um senhor com mais de seus 80 anos estar ali para participar do culto da juventude. Pois é, o que poucos sabiam até então é que ele sofre com o mal de Alzheimer.
Alzheimer é uma doença degenerativa que acomete o indivíduo, homem ou mulher, num quadro progressivo e irreversível das suas funções intelectuais, alguns de seus principais sintomas são:
·        Falta de memória para acontecimentos recentes;
·        Repetição da mesma pergunta várias vezes;
·        Dificuldade para acompanhar conversações ou pensamentos;
·        Dificuldade para encontrar palavras que exprimam idéias ou sentimentos pessoais;
·   Irritabilidade, agressividade, passividade, interpretações erradas de estímulos visuais ou auditivos, tendência ao isolamento. 

Assim, muito gentilmente fui até ele para explicar que o culto era dos jovens, mas ele teimava em dizer que era domingo, quando na verdade era sábado. Depois de muita conversa e insistência, o filho conseguiu levá-lo pra casa.
Fiquei com aquela cena em mente, do homem que tempos atrás passava pelo meu trabalho para conversar, sempre dirigindo, viajando, não faltava nos trabalhos da igreja, servindo como diácono. E hoje o vemos na dependência dos seus filhos. Lembro-me de quando ele dizia: “Queria ter entregado minha vida para Jesus quando ainda jovem”.

Salomão relata uma cena que nos mostra muito bem o que acontece com o ser humano quando a velhice chega (Eclesiastes 12). Quando faltam lembranças, falha a memória, as forças se vão, os olhos escurecem e a fala é interrompida até que a vida se esvai.
A juventude é uma das fases da vida, onde as expectativas e as incertezas do amanhã costumam não fazer parte das prioridades.
E hoje com certeza, de modo muito mais alarmante do que era nos dias onde esse senhor pode viver sua juventude, os jovens tem trocado experiências definitivas e impactantes, por experiências provisórias. Tudo é momentâneo, tudo é instantâneo, automático, expresso, é “fast”...
As experiências vem, passam pela vida e com a mesma velocidade que se vivenciam os prazeres, se esquece desses prazeres...

Mas pode chegar um dia, um momento em que a única coisa que venhamos a ter serão as boas lembranças de uma vida verdadeiramente prazerosa. Lembranças tão fortes e definitivas, que ainda que nossa mente nos traia pelas intempéries físicas, elas sempre estarão lá...

Por isso que ao olhar e meditar a respeito do que vejo acontecendo nesses dias, tenho a certeza e a convicção de que estou entregando a melhor época da minha vida aos cuidados de Deus e quando os maus dias chegarem poderei olhar para trás e dizer que valeu a pena.

Não perca tempo! Busque o Senhor enquanto podem achá-lo!


Rodrigo Andrade
https://www.facebook.com/amendoimteologico 

sexta-feira, 4 de abril de 2014

JESUS - Unico Caminho.




"Eu sou o caminho, e a verdade e a vida..." (Jo 14:6)


A mensagem que Jesus nos ensina indica que não existe um lugar especifico onde podemos encontrá-lo, mas sim um mover - em espírito e verdade - literalmente um mover; que nos indica o “caminho” a seguir para poder encontrá-lo. Dia após dia, segundo após segundo. Não é o lugar que nos faz pertencer ao Reino dos Céus e muito menos o momento pela qual passamos, mas sim o caminhar por esse “Caminho”.
As “bem-aventuranças” que encontramos no Sermão do Monte (Mt 5) nos revela que o significado de felicidade plena, “sinônimo” dessas bem-aventuranças, não se refere a um determinado momento ou a um provável local. Não se refere a um dia onde se “aceitou” Jesus e nem muito menos a igreja(instituição) onde isso ocorreu.
Se o verdadeiro sentido disso tudo não for Jesus, todas essas coisas ficarão pra trás, no entanto tudo isso e muitas outras coisas servirão de impulso caso o próximo passo dado nos conduza na direção de Cristo, assim nos manteremos no “Caminho”.
Jesus diz no Evangelho de Mateus, capitulo oito, versículo vinte: “... mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. Entendemos que não precisamos abdicar do nosso lar, das nossas raízes, família, amigos, igreja, etc. Porém se qualquer dessas coisas nos tirar o foco do “Caminho” devemos sim administrá-las, mudá-las ou até abandoná-las.
Portanto, não que a vontade de Deus na pessoa de Jesus, seja que fiquemos estagnados. Ainda que seja numa igreja, numa comunidade, num ministério, num compromisso firmado, num pensamento, numa convicção, numa tradição, numa doutrina. Se tudo isso por ventura nos desvia ou abstrai do “Caminho”, deve sim ser repensado.
A bem-aventurança está no “Caminho” e não num lugar onde se reclina a cabeça para descanso, ou onde se acomoda a mente, ou onde se estabelece conforto, pois nesse caminho essas coisas se tornam um paradoxo, simplesmente deixam de existir.
Nós seguimos este pensamento mesmo sendo pobres de espírito, chorando, sofrendo, sendo perseguidos, tendo sede de justiça e vendo tanta injustiça e, sobretudo pecando, mais ainda assim com tudo isso, estamos no “Caminho”, e sabemos que assim somos bem-aventurados.
 O caminho é sinônimo de movimento, é uma trajetória com um sentido bem definido, e que faz todo sentido. Vivemos nesta trajetória, lutamos para nos manter nesse caminho constantemente. Podemos sim pecar e estar no caminho, arrepender-se e continuar no caminho, seguir pecando e se arrependendo, morrendo e nascendo de novo, mas nesse “Caminho”.
Na primeira carta do Apóstolo João (1º Jo 1:8) fala sobre isso “se afirmarmos que estamos livres do pecado, estaremos apenas enganando a nós mesmos”, ou seja, estamos fora do “Caminho”.
Que sejamos bem-aventurados, estar no caminho é estar contra a inércia, é encontrar a felicidade em Cristo indo rumo ao Reino dos Céus. Que lutemos contra a religiosidade que nos torna estagnados, numa falsa sensação de conforto e santidade.
Estar no caminho não é sinal de garantia de que chegaremos ao nosso destino, mas é a única opção que temos para que isso possa acontecer.


Rodrigo Costa Meira.
https://www.facebook.com/rodrigo.costameira