Em determinada altura de seu ministério
Jesus retornou à cidade onde fora criado, Nazaré. Chegando o shabbat (sábado), dirigiu-se à sinagoga.
Naquela ocasião foi-lhe dada a oportunidade de falar, e passou a ensinar. Ao
ouvir as suas palavras a multidão se maravilhava.
Considerando o contexto literário
proposto por Marcos para este episódio, as pessoas presentes deveriam ter em
mente o que Jesus operara em outros lugares (curas, expulsões de demônios,
etc).
Enquanto Jesus falava, inúmeros
questionamentos foram surgindo. "De onde lhe vêm estas coisas? e que
sabedoria é esta que lhe foi dada? e como se fazem tais maravilhas por suas
mãos?" (Mc 6,2). Marcos e Mateus dizem que estas perguntas foram
originadas pelo maravilhar-se das pessoas ante Jesus. Logo iniciaram-se as
primeiras considerações a respeito da identidade daquele que, naquele momento,
maravilhava a multidão. "Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão
de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui conosco suas
irmãs?" (Mc 6,3). Aquele que chamava a atenção era um homem simples, e do
povo.
Mas, infelizmente, a simplicidade que
envolvia a figura de Jesus tornou-se motivo para que o coração dos ouvintes se
escandalizasse. Marcos diz: "E escandalizavam-se nele" (Mc 6,3). Na
mente dos conterrâneos de Jesus o extraordinário de Deus era incompatível com a
figura simples do homem que lhes falava. A simplicidade tornou-se escândalo, e
o coração fechou-se na incredulidade.
Somos fascinados pelo fantástico! Tudo o
que é extraordinário nos encanta. Porém, na grande maioria das vezes buscamos a
fonte do divino em figuras ou ambientes requintados. E constantemente
consideramos a simplicidade incompatível com um canal do extraordinário.
Jesus, a Revelação máxima e definitiva de
Deus, assumiu a simplicidade de um carpinteiro, O Carpinteiro de Nazaré! Mãos
calejadas, talvez algumas marcas de pequenos acidentes de trabalho, enfim: um
homem simples!
A verdade é que a simplicidade como fonte
do extraordinário nos incomoda. Buscamos os grandes, aqueles que estão em
destaque, aos que, segundo nossos critérios, se tornam "a" fonte. E
perdemos a capacidade de ver o agir de Deus através da simplicidade.
Cezar Flora