Certa feita fui a uma das belas
cachoeiras da cidade de Faxinal com um grupo de amigos. Um deles, chamado
Idamar, foi com sua esposa e filhos; o menor chamasse Kallel. Era um dia
agradável: céu azul com bem poucas nuvens, o sol estava brilhando em toda a sua
intensidade, e a temperatura estava elevada. Para chegar até a cachoeira
passamos por uma trilha, uns trinta minutos de caminhada.
Enquanto caminhávamos, o pequeno Kallel,
empolgadíssimo com a caminhada, não queria outro lugar senão estar a frente de
todos. Se em algum obstáculo era necessário que um adulto passasse à frente,
logo ele conseguia um jeito de tomar a dianteira novamente. Durante a caminhada
ele não se preocupou em nenhum momento em estar perto do pai. Ele se sentia
perfeitamente capaz de seguir a trilha e chegar à cachoeira conduzindo a todos.
Enfim, chegamos à cachoeira. A visão era
esplêndida. E ali, uns trinta metros próximos ao pé da cachoeira, ficamos a
contemplar aquela beleza da natureza por alguns minutos. Era o ponto alto da
caminhada. Pois o objetivo da caminhada era chegar à cachoeira, com uma pitada
de aventura.
Enquanto as nossas esposas se contentaram
em se banhar nas águas próximas onde estávamos a contemplar a cachoeira, nós
preferimos nos aproximar mais, e o pequeno Kallel foi conosco. Foi uma escalada
de uns cinco minutos. Haviam diversas rochas escorregadias. Mas, ao chegarmos
lá, a vista era muito melhor. Agora não apenas a víamos, mas a sentíamos bem
próximo a nós.
Na posição anterior podíamos encará-la
com muita facilidade. Mas, quando chegamos até onde a água caía, não
conseguíamos mirar a cachoeira por muito tempo. O máximo que conseguíamos fazer
era dar pequenas olhadelas. O vento era muito forte, e a água nos impedia de
permanecermos a olhar detidamente.
A experiência de estar ao pé daquela
cachoeira é indescritível. Não podendo fitá-la por muito tempo nos contentamos
em sentar nas pedras, e ali permanecemos de costas para a cachoeira. Ali, sem
poder contemplá-la fixamente, nos a podíamos ouvir, sentir seus respingos, o
vento que ela gerava, e também sentir o cheiro agradável que aquela queda
d'água proporcionava ao ambiente. Entre as rochas que a cercavam nos sentimos
como em um santuário da natureza. Talvez ali também valesse as palavras de Deus
a Moisés: "aqui é terra santa". A sensação era simplesmente
indescritível.
Durante a caminhada a temperatura estava
elevada, mas, ali, aos pés da cachoeira, devido ao frescor das águas, estava
frio. Entretanto, aqui entra a lição que vi no pequeno Kallel. Enquanto
escalávamos as rochas para chegarmos ao pé da cachoeira, no início foi difícil
controlar o impulso desbravador daquele pequeno garoto. Porém, quanto mais nos
aproximávamos, mais próximo ele ia ficando do seu pai.
Quando chegamos ao pé da cachoeira,
embora estivéssemos no lugar mais belo e recompensador da caminhada - ali
mesmo, onde vivíamos uma experiência contemplativa da beleza e sacralidade do
lugar - o Kallel rapidamente buscou segurança nos braços de seu pai. Aquele
garotinho corajoso e desbravador, em meio a beleza surreal do local, que também
lhe causava temor, encontrou segurança para desfrutar daquele momento somente
nos braços do seu pai.
Foi uma lição e tanto sobre a segurança
que desfrutamos nos braços do Pai celestial. Quantas vezes sentimos que sabemos
tudo, que somos independentes, que nossa braveza e coração desbravador nos bastam.
O lugar onde o Kallel percebeu a segurança que os braços de seu pai lhe
conferiam não foi em meio a trilha, onde ele podia sentir autoconfiança - a
trilha em nada se comparava aquilo que desfrutamos ao pé da cachoeira.
Quando chegamos ao ápice da nossa
caminhada, no momento mais deslumbrante da caminhada, aquilo causou temor no
coração do pequenino Kallel. E somente ali ele percebeu a segurança que os
braços de seu pai lhe conferiam. A experiência do local, repito, era
indescritível, porém, ao pequeno Kallel só foi possível desfrutar aquele
momento enquanto seguro nos braços do pai.
Creio que assim somos nós nos momentos
mais deslumbrantes da vida - esses momentos em que ficamos extasiados e
maravilhados com o mistério divino - o temor nos toma o coração. No entanto,
isso nos faz reconhecer que o melhor lugar do mundo para vivenciar o momento é
quando nos encontramos escondidos, sentindo-nos seguros, nos braços do nosso
Pai Celestial.
Cezar Flora
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